segunda-feira, 1 de outubro de 2007

"Vivemos não uma época de mudanças, mas uma mudança de época"

Do Blog do professor Emir Sader:
O Equador não existia para nós. A única referência que me lembro, da escola – além da capital, Quito -, era quando sistematicamente caía nas provas a perguntinha: Quais os dois únicos países da América do Sul que não têm fronteira com o Brasil?
Só aí entrava o Equador, junto com o Chile, com o sentido de que, eram países tão longínquos – para não dizer exóticos -, que nem fronteira tinham com um país continente como o nosso. Nem isso tinham. O que se poderia esperar de países assim?
O Chile pelo menos tinha times de futebol, como o Colo Colo - que nem sabíamos que era o nome de um cacique da resistência mapuche aos colonizadores -, tinha Elias Figueroa. Nem música conhecíamos desses países. A linha do Equador era insuficiente para despertar nossa atenção sobre o Equador, mesmo se andaram ganhando de nós no futebol.
De repente começamos a saber que mobilizações populares – tivemos que ficar sabendo que os movimentos indígenas tem um grande peso ali – haviam derrubado sucessivamente três presidentes que insistiam em manter programas de governo neoliberais. O terceiro deles – Lucio Gutierrez – foi eleito com apoio dos movimentos indígenas, mas antes mesmo de tomar posse, foi aos EUA e assinou acordos com o governo daquele país que contradiziam frontalmente sua própria plataforma de campanha.
No ano passado, o vice-presidente de Gutierrez tentou assinar um Tratado de Livre Comércio com os EUA, mas foi impedido por nova onda de manfestações populares, que desembocaram nas novas eleições presidenciais. Rafael Correa, um economista cristão, apresentou sua candidatura como expressão desse movimento de questionamento do neoliberalismo e da subordinação às politicas dos EUA – que, entre outras conseqüências, havia tido a dolarização e a instalação de uma base militar estadunidense no país, em Mantra.
Alinhado com a proposta de refundação dos Estados latino-americanos, Rafael Correa assumiu essa reivindicação, junto com o fim da dolarização, a retirada da base militar dos EUA, a integração na Alba, a superação do neoliberalismo, entre outras. Rafael Correa venceu quatro eleições sucessivamente, em poucos meses: o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial, uma consulta popular sobre a convocação da Assembléia Constituinte e, agora, ganhando a maioria absoluta na composição deste.
Vitorioso na eleição presidencial, Rafael Correa fez duas declarações significativas: "Terminou a longe noite do neoliberalismo" e "Vivemos não uma época de mudanças, mas uma mudança de época". Com essas duas referências, Correa está conduzindo o Equador para o pós-neoliberalismo. Um país que teve mais de um milhão de emigrantes, quando sua economia foi dolarizada. Um país que tem 700 mil equatorianos só na Espanha. Que produz, mas não refina petróleo, até que o governo da Venezuela financia a construção de uma usina para fazê-lo no Equador.
Rafael Correa afirma que o Equador está disposto a sair do dólar, mas para isso precisa de uma moeda forte, não o retorno ao sucre, mas uma moeda regional, uma moeda do Mercosul. Também por isso ele é o maior adepto do Banco do Sul, em que os países da região deixarão de depositar suas reservas em bancos estadunidenses, recebendo magros juros e pagarão juros altos quando pedem esse mesmo dinheiro emprestado. Um banco que passará a financiar, com juros subsidiados, o desenvolvimento econômico e social da região, um Banco do Sul para o Sul.
Já nunca mais poderemos desconhecer o Equador, nem seu presidente, seu povo, seu processo político e sua história, porque agora o Equador faz fronteira com todos os países da região, irmanados na construção de um continente justo, soberano e solidário.

Rafael Corrêa saiu vitorioso na votação que escolheu os 130 parlamentares da Assembléia Constituinte que reescreverá a Carta Magna do país. Mais de nove milhões de equatorianos participaram das votações dentro e fora do país. Acabado esse processo, a nova Constituição irá para votação em referendo popular.

Visse essa notícia por aí?!

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

At.1

Retirado do 50 ANOS NO NOSSO. Três atos da vida política e da mídia.
"... algo que tinha uma corrupção própria, pior do que a corrupção da morte. - uma coisa capaz de engendrar horror e que, todavia, nunca morreria" (Dorian Gray, contemplando seu retrato, que escondia por revelar a sordidez de sua alma).

At.2

UM EDITORIAL ASSINADO E SINCERO
"A AÇÃO DOS COMUNISTAS"
(abaixo à esq. na página)

At.3

Gen. Mário Poppe de Figueiredo, comandante do III Exército depois do golpe, com direito a bilhete escrito de próprio punho para não deixar dúvida a sua autoria: "Recebi com muita simpatia o aparecimento de Zero Hora. Com a orientação de propugnar pelos ideais cristãos e democráticos do povo brasileiro, será mais uma voz a conduzir a opinião pública no Rio Grande do Sul nos rumos tradicionais de nossa formação histórica. Auguro a Zero Hora uma longa e próspera existência."

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

a filhadaputice tradicionalista

Transcrevo, em completo, texto de Cristóvão Feil na Carta Maior de 2004.
"Como sabemos,
os pardais, depois de instalados numa querência,
expulsam todos os demais pássaros habitantes da região."
“Sentido! – disse ele a um negro,
queres passar por bonito,
e és no entanto o mais maldito que se encontra em todo o pago;
um favor é o que te trago,
quanto ao serviço te admito”.
(“Martin Fierro”, de José Hernández, publicado em 1872. Aqui, Martin relata o tratamento dado aos peões nas estâncias do pampa. Canto XXV, 936.)
Jorge Luis Borges, um dos mais imaginosos escritores da literatura universal, tem um conto breve e trágico chamado A intrusa; tão breve, quanto denso de significações – uma das marcas da escrita borgeana. A trama é simples e direta: no final do século 19, dois irmãos, muito unidos, que “foram tropeiros, carneadores, ladrões de gado e, uma ou outra vez, trapaceiros”, começam a compartilhar dos serviços domésticos e sexuais de Juliana Burgos, uma morena de olhos rasgados e sorriso fácil. Na alma xucra dos irmãos brota o “amor monstruoso”, e “isso, de algum modo, os humilhava”. Então, vendem Juliana Burgos (“que era uma coisa”) a um prostíbulo; mas cada um, escondido, continua a freqüentá-la. “A infame solução havia fracassado; os dois haviam cedido à tentação de fazer trapaça”. Caim andava por ali. À intrusa Juliana Burgos, “que trouxera a discórdia”, só restava a morte. A sua eliminação é uma forma insana de reconciliá-los, na obrigação de esquecê-la.
Juliana Burgos
A metáfora borgeana, nesse caso, simboliza a intolerância do narcísico para com o Outro. O indesejado interpõem-se frente às imagens que desejamos ver ou ser. O narcisismo quer mais do mesmo – daí a sua intransigência para com o diferente. O diferente precisa ser eliminado. As Juliana Burgos precisam morrer. Suas existências são motivo de medo e sofrimento para a arranjada e sempre precária normalidade dos iguais.
A evocação borgeana não é fortuita. Senão, vejamos: no Rio Grande do Sul, os formuladores e militantes políticos do tradicionalismo gauchista tem medo de Juliana Burgos. Tem medo do diferente. Por isso querem impor a ordem unidimensional da estância. Ramiro Frota Barcellos, na obra Rio Grande, tradição e cultura (1915), é de uma clareza solar quanto aos propósitos delirantes do tradicionalismo estancieiro: “O que agora se verifica, mercê do atual movimento tradicionalista, é a transposição simbólica dos remanescentes dos ‘grupos locais’, com suas estâncias e seus galpões para o coração das cidades. Transposição simbólica, mas que fará sobreviver, na mais singular aculturação de todos os tempos, o Rio Grande latifundiário e pecuarista”. O arrebatado Ramiro manifesta aqui uma violência latente, uma mentalidade-pardal, uma agressividade incomum na imposição de valores míticos que ele quer que sejam dominantes na região. O tradicionalismo estancieiro de espetáculo constitui-se, a rigor, em um mito; um mito que trabalha para legitimar-se (e tornar-se exclusivo) como fala, hábitos, costumes, valores e discursos, através dos métodos da naturalização. Em sociedades escassamente letradas, como o Rio Grande do século XIX, o discurso do poder tem trânsito e capilaridade social difícil, e o grau de inteligibilidade é próximo do zero. Como fazer para legitimar o mando e, sobretudo, os valores hegemônicos de elites econômicas e culturais num cenário humano tão tosco e refratário? “Ele teria de ser feito – assinala José Murilo de Carvalho – mediante sinais mais universais, de leitura mais fácil, como as imagens, as alegorias, os símbolos, os mitos”. Esses “sinais mais universais”, agora, são compreendidos e assimilados por todos. E de forma lenta, acumulativa e constante vão se naturalizando no senso comum das populações, sejam letrados ou iletrados. Não foi Mirabeau que afirmou ser necessário “apoderar-se da imaginação do povo”? Assim, o mito moderno é um roubo e uma ocupação: rouba a história e ocupa as mentalidades, em troca empresta-lhe um simulacro de identidade social. A mitologia é um processo lento, mas compensado por eficácia imagética, democratização horizontal dos discursos, porosidade étnica, nivelamento cognitivo, abolição do conflito, universalidade social, ocultamento do propósito original e seu caráter de sujeição/disciplinamento de classes, aparenta neutralidade política, e, o mais importante, naturalização simbólica de tudo que faz parte do universo mítico. Exemplo: “é da natureza do gaúcho ser assim, bravo, indômito, grosso e rebelde”. Essa é a típica fala do mito: um constructo, um arranjo manipulatório com a moldura do Natural, visando objetivos de normalização, sujeição e disciplinamento social. O gaúcho (em abstrato) não é natural, assim como o social igualmente não é natural. Tanto o gaúcho coletivo, abstrato, quanto o cidadão conceitual são inventivas construções histórico-sociais. Ambos estão inscritos numa ordem cultural – que é histórica – que pode e deve passar pelo crivo de amiúdes revisões críticas, especialmente se estiverem a serviço de objetivos dissimuladamente políticos, comerciais ou falsamente culturais, como é o caso do gauchismo-pardal. As máscaras sempre caem, mas pode-se abreviar essa fatalidade. Roland Barthes diz que “a função do mito é transformar uma intenção histórica em natureza, uma contingência em eternidade”. “Passando da história à natureza – prossegue Barthes – o mito faz uma economia; abole a complexidade dos atos humanos, confere-lhes a simplicidade das essências, suprime toda e qualquer dialética, qualquer elevação para lá do visível imediato, organiza um mundo sem contradições, porque sem profundeza, um mundo plano que se ostenta em sua evidência, cria uma clareza feliz: as coisas parecem significar sozinhas, por elas próprias”.
O mito é naturalizado
No mito, a natureza das coisas é auto-explicada e, por isso mesmo, tautológicas, onde se define o mesmo pelo mesmo: “gaúcho é gaúcho; sendo gaúcho você é naturalmente tradicionalista; sendo tradicionalista você é naturalmente gaúcho”. E estamos conversados, permanecemos prisioneiros de uma sentença irrecorrível. Quem estiver fora dessa perspectiva estreita está fora do mundo. É o diferente que precisa ser eliminado. É a temida Juliana Burgos. Sartre diz que a tautologia “é um duplo assassinato: mata-se o racional porque ele nos resiste, mata-se a linguagem porque ela nos trai”. Além disso, a tautologia (muito presente no discurso gauchista) protege-se covardemente atrás do “argumento de autoridade” ou, como diz o senso comum, o ultimato vil do “carteiraço”: “é assim porque é assim”; “porque é, e ponto final”, “eu sei porque sou fulano de Tal”. Ou, o que é pior: “eu sei porque sou seu Pai”. Barthes diz que a tautologia é uma recusa à linguagem, e toda recusa à linguagem é uma morte: “a tautologia fundamenta um mundo morto, um mundo imóvel”. Os assassinos de Juliana Burgos nunca dialogam com ela, nem a chamam pelo nome; uma “coisa” não merece razão e sensibilidade, merece o silêncio, a morte e o repasto do carancho rapineiro.
O processo mítico começa a desenvolver-se – assegura Raoul Girardet – “a partir do momento em que se opera na consciência coletiva o que se pode considerar como um fenômeno de não-identificação”. O mito trata, então, de fornecer uma postiça identidade imagética às sensibilidades humanas. Como as ilusões estão todas mortas e enterradas, o mito as substitui por imagens de efeito placebo face às inquietações da modernidade avançada. Lacan diz que “o faltante é estruturante”. Pois, o fenômeno do tradicionalismo narcisista, em que pese a sua simbologia simplória e sem saliências, encerra profundas repercussões na alma popular. O mito por ser despolitizante; opera uma ponte entre o passado e o futuro, sem tocar no presente, porque aí habita a política. O futuro será iluminado e glorioso como o passado na versão estancieira, e seleciona imagens identitárias, espelhos dourados ao homem-multidão. Não somos como os animais, que se alimentam do imediato; a alma humana se alimenta – sobretudo – do faltante, do sonho, da projeção dos contornos do futuro anunciados pelos filósofos, profetas, demiurgos e utopistas. A matéria dos sonhos é feita de retalhos mesclados de utopia, memória, esquecimento, superstição, consciência, inconsciência, religião, encantamento, frustração, satisfação, magia, ciência, lucidez e loucura. O “desencantamento do mundo” (Weber) nunca se completa, novos encantamentos modelam-se nos rescaldos da história, novos mitos surgem para roubar-nos a humanidade, a imaginação e a autonomia. Estudos em neurologia informam que os dois hemisférios do cérebro humano guardam, cada qual, a sua própria sintaxe de pensamento e expressão lingüística; de um lado, o pensamento e a fala simbólica, pré-lógica, mágica (de que se nutre o mito); de outro, se sobressai o pensamento e a linguagem conceitual e lógica (de que se nutre a ciência). Isso propicia o retorno do velho – mas sempre atual – tema binário da alienação e emancipação. Seja que categoria ou linha epistemológica estivermos tratando – lenda, tradição inventada, comunidade de imaginação, mito, má consciência, razão instrumental, ideologia, produção de verdades, etc. –, tudo se sintetiza dialeticamente no tema da alienação/reificação do homem sem qualidades. O mito é uma das tantas moradas da alienação e da heteronomia.
Quem tem medo de Floriano Cambará?
A história do Rio Grande foi contada por um sem-número de historiadores, cientistas sociais, etnógrafos, antropólogos, etc., muitos autênticos, alguns impostores. Mas, é na literatura vertida em arte, pela imaginação poética de Érico Veríssimo (1905-1975)., que ela encontra o seu relevo mais saliente e expressivo. A historiografia é feita de memória e esquecimento; a memória dos vencedores e o esquecimento dos vencidos. Érico não esqueceu de ninguém, nos mais de dois séculos do mosaico humano rio-grandense que ele narrou. Floriano Cambará é um personagem do grande escritor brasileiro, que, num exercício de metalinguagem, faz de Floriano o autor do romance “O tempo e o vento”, que abarca o período de 1745 à década de 1950. É um segundo eu do escritor, um álter ego, que ele dá vida nas mais de duas mil páginas da homérica narrativa ficcional sobre o Rio Grande do Sul – um Estado dividido em dois, social e economicamente; a metade Norte, onde o módulo rural é minifundiário, tem padrões socioeconômicos relativamente elevados; a metade Sul, onde a matriz produtiva é o latifúndio, o desenvolvimento humano é degradado, não houve industrialização e as poucas cidades são antigas, bonitas e decadentes. No dia 17 de dezembro de 2005, Érico, se estivesse vivo, completaria 100 anos. Está, pois, aberta a temporada de debates sobre a obra desse escritor notável que ajudou a interpretar parte da complexidade, riqueza cultural, polissemia e polifonia do Rio Grande em que nasceu, sem nunca agasalhar-se nos pelegos do tradicionalismo piolho-de-estância. Sacrificam-se sozinhos, como perdiz no arame, os que suspeitam que “O tempo e o vento” seja mais uma tediosa obra regionalista de filiação passadista. O romance é um vasto e febricitante painel, em alto e baixo relêvo, das humanidades e desumanidades que o solo meridional experimentou na sua curta e densa história. “O tempo e o vento” não é uma narrativa plana e lisa, é sim uma narrativa com História (simbolizada pelo Tempo, pelas mulheres fortes, homens nem tanto, famílias, lutas pelo poder e pela vida) e com Natureza (simbolizada pelo Vento, pelas coxilhas, pelo pampa e pela terra). Terra essa que começa, pouco a pouco, a sair da natureza para entrar na história, através da apropriação privada, a estância, o latifúndio, os arames, o gado chimarrão, o charque, as vilas, as revoluções, a cidade de Santa Fé e o mítico Sobrado – o cenário privilegiado da intrincada trama de Érico.
Os trovões da razão crítica
Floriano Cambará é um crítico afiado do tradicionalismo gaucheiro, bem como outros personagens do grande romance. É ilustrativo o diálogo áspero que travam Terêncio, o latifundiário, de um lado, e Floriano, o escritor, de outro. “É estranho – observa Terêncio – que logo um escritor aí esteja a desprezar, a atacar os símbolos, as metáforas, os mitos. Como seria possível gerarem-se e manterem-se civilizações sem o uso de símbolos? Como poderia o homem transmitir a cultura aos seus descendentes, através dos séculos, sem os símbolos?” “Estou absolutamente de acordo com o senhor – replica Floriano. – Como poderia haver arte literária sem símbolos? Como poderia existir arte poética sem palavras, símbolos ou metáforas? Mas quero que me entendam... A linguagem figurada pode ser perfeitamente inocente, além de bela e necessária. Mas o perigo começa quando o povo toma ao pé da letra, como verdades absolutas, os símbolos e metáforas políticas e sociais engendrados de acordo com o interesse imediato de quem os emprega.” Lá fora, para sugerir tensão à narrativa, uma noite chuvosa e com trovoadas estremece molhando Santa Fé. Parece que os elementos celestes querem intervir na peleia verbal.“Terêncio parece estonteado. - Mas é assustador! – exclama. – Os senhores destroem tudo, não acreditam em nada e em ninguém! Se nós os gaúchos jogamos fora os nossos mitos, que é que sobra? Floriano olha para o estancieiro e diz tranqüilamente: - Sobra o Rio Grande, doutor. O Rio Grande sem máscara. O Rio Grande sem belas mentiras. O Rio Grande autêntico. Acho que à nossa coragem física de guerreiros devemos acrescentar a coragem moral de enfrentar a realidade. - Mas o que é que o senhor chama de realidade? - O que somos, o que temos. E não vejo por que tudo isso deva ser necessariamente menos nobre, menos belo ou menos bom que essas fantasias saudosistas do gauchismo com que procuramos nos iludir e impressionar os outros”, completou Floriano Cambará. Roland Barthes se estivesse ali no sobrado de Santa Fé, naquela noite barulhenta e molhada, certamente, comentaria sobre o debate do mito gauchista: “A sua clareza é eufórica!”

QUÁ QUÁ QUÁ!

E então, como ficamos?
Por falta de espaço, ficou de fora o ilustre Fernando Gabeira (PV). Sua fala diz assim: "A imprensa precisa cada vez mais levar transparência ao cidadão. Nesse sentido, foi uma garnde honra trabalhar na RBS" (sic gigante).
O restante é a velha corja da direita fascista da qual já sabemos suas opiniões. Mas sei lá, me sinto um tanto confuso.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Modelo Econômico

Parte da matéria de Renato Pompeu na Caros Amigos de agosto. Com referência do site OpenDemocracy e foto do TheAge.
"Ao ser descoberto que 53.000 pessoas trabalhavam em regime de escravidão em 2.000 olarias da província de Shanxi, na China (ver AQUI), veio a público uma das características menos conhecidas do "milagre" econômico chinês: as péssimas condições de para grande parte dos trabalhadores.
As imagens de TV mostraram homens e mulheres, idosos e crianças em condições comparáveis à dos campos de concentração nazistas: rostos emaciados, enormes olhos sem expressão, corpos magérrimos cobertos por farrapos imundos. Como disse o historiador brasileiro Fernando Novais, a escravidão não "renasce", ela "nasce" com características diferentes conforme a época e o lugar."
O avance econômico chinês é gritado a todos pulmões e serve de argumento aos "desenvolvimentistas" brasileiros que não cessam de comparar os pífios números brasileiros ao gigante asiático. Bueno, todo ano, por aqui, mais de 1.000 escravos são libertados dos latifúndios do agronegócio. Agora como modelo e salvação, Lula aposta tudo nos biocombustíveis e no neo-colonialismo que ele representa. Será que chegaremos aos 50.000 escravos por ano?

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

ufa!

"Pronta edição em papel do Le Monde Diplomatique Brasil. Jornal publicará livros e terá, na internet, caderno especial para debater temas brasileiros. Por trás das novidades, uma articulação editorial inédita entre entidades da sociedade civil"
"Em 6 de agosto, chega às bancas uma edição em papel, com tiragem de 40 mil exemplares. Pouco depois, sairá o primeiro número de uma série de livros temáticos de bolso. Em setembro, começa a ser construído, na internet, o Caderno Brasil, um conjunto de canais participativos para debater em profundidade o país, a globalização e as alternativas."

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

PARA NÃO ESQUECER

Clique na imagem para aumentá-la e conjecture livremente sobre os olhares.

SAGA

Esse aí grandão é o novo logo da canalha. A mira ficou mais fácil agora. Talvez facilite a aceitação por parte das pessoas que os caras agem em "grupo" e em diversos meios de comunicação.

Para não esquecer: 18 emissoras de TV aberta (RBS TV); 2 emissoras de TV comunitária (TVCOM); Canal Rural; 26 emissoras de rádio (Rede Gaúcha SAT, Rede Atlântida, Rede Itapema, CBN 1340, CBN Diário, Farroupilha, Cidade, Metrô, Rural); 8 jornais (Zero Hora, Diário Gaúcho, Diário de Santa Maria, Pioneiro, Diário Catarinense , Jornal de Santa Catarina, Hora de Santa Catarina e A Notícia); 2 portais na Internet (clicRBS e hagah); 1 editora (RBS Publicações); 1 gravadora (Orbeat Music); 1 empresa de logística (viaLog); 1 empresa de marketing e relacionamento com o público jovem (Kzuka); 1 fundação (Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho)

sexta-feira, 13 de julho de 2007

um Cortázar entre outros

Estes recortes estão numa boa revista eletrônica chamada BIFURCACIONES, uma mescla de fotografia e artigos sobre cidades e os urbanos por aí. Cortázar mostra a poesia que nossa grosseira contemporaneidade enquadra como crime. Em nossa cidade temos um disk-pichação e outras merdas que não cabem no post.

Sigamos com o poeta.

"Aquí, por ejemplo, esta cantidad de carteles, de afiches que se van amontonando… En general la gente pasa y mira el último, el que está pegado encima. Yo no sé, para mí es… algo así como una pared llena de carteles tiene algo siempre de mensaje, es como una especie de poema anómino porque ha sido hecho por todos, por montones de pegadores de carteles que fueron superponiendo palabras, que fueron acumulando imágenes, y luego algunas caen y otras quedan y los colores se van combinando. Ahí arriba, por ejemplo, hay un verdadero cuadro que se va a seguir perfeccionando todavía, porque cuando ese cartel se caiga en pedazos va a ser todavía más hermoso.

Pero este tipo de cosas, lo que me da a mí, lo que siempre me dio –cuando yo aprendí lo que es caminar verdaderamente y perderse en una ciudad- es sobre todo signos. Además de eso que yo llamo el poema anónimo, por darle un nombre, es que ese poema tiene un sentido, tiene… hay palabras, hay cosas que continuamente te echan hacia adelante o te echan hacia atrás. Por ejemplo, aquí, por pura casualidad, ese cartel de ahí, ‘Dillinger’… bueno, Dillinger para mí es irme inmediatamente treinta o treinta y cinco años atrás, en Buenos Aires, cuando en los diarios se hablaba todo el tiempo del verdadero Dillinger, no de este actor que lo representa ahora. De aquél que era el enemigo público número uno de Estados Unidos y se lo buscaba por todos lados .
Ahora, eso crea como una especie de coágulo, porque ahora yo sigo caminando, andando, pero creo que durante mucho rato voy a estar viviendo todavía treinta años atrás, lo cual supone todo un juego de recuerdos, de sentimientos… " Del documental Cortázar, de Tristán Bauer (Buenos Aires, 1994).

segunda-feira, 9 de julho de 2007

PANópticO

Num Riozão 40ºC com "a mais nova maravilha do mundo" me pergunto: um cara que só se fode, só se fode mesmo, é um "mó sifudão"?
Sob o título "Pan-Rio 2007, o evento estatal de 2 bilhões de dólares", o Diário Gauche atenta para o ralo do lucro:
"É ou não é um verdadeiro comitê - olímpico - da burguesia? O Brasil inteiro investiu 2 bi de dólares no Rio de Janeiro da governadora Rosinha/governador Cabral e do prefeito César Maia, e da rede hoteleira privada, das locadoras de veículos privadas, dos shopping centers privados, dos restaurantes privados, e do comércio em geral privado do Rio de Janeiro. O Pan é, neste sentido, um evento francamente estatal, tanto por iniciativa política, quanto por garantia de recursos orçamentários ilimitados e privilegiados. Investimentos públicos, lucros privados - e o que é pior, sem a menor contrapartida social ou política."

No mesmo sentido só que com mais ímpeto, Juca Kfouri e José Trajano detonam na Caros Amigos desse mês:

Kfouri: O Nuzman (Presidente do COB) tem uma rede de pessoas em torno dele que ele favorece. Então, o que já vimos no PAN? Há coisas desde absolutamente ridículas até graves. Comecemos pelas ridículas: quem é a figurinista da equipe olímpica brasileira?
Trajano: Mônica Conceição. Kfouri: Que vem a ser? Trajano: Cunhada dele.
Trajano: Marcus Vinicius Freire. Diretor do COB, ele representa no Brasil a AON Seguros, que faz o seguro das delegações do próprio COB. O mais grave é que ele é sócio do Alexandre Accioly, esse que é dono de tudo. Eles ganharam o direito de comercialização dos bilhetes do Pan-americano...
Trajano: ... a empresa contratada pra idealizar, idealizar e mais nada, as medalhas do PAN ganhou o direito de fazer isso numa mera carta-convite, auferindo 720 mil reais em um contrato de três anos.
Kfouri: Tem mais. A empresa que organiza a festa de abertura e de encerramento, tambem sem licitação, é ligada ao Accioly, que é sócio do Marcus Vinicius em uma outra empresa. Quer dizer, é uma grande festa pra um grupo pequeno.
A entrevista é imperdível. Mas essa é boa demais:
Essa licitação, quem é que promove?
Trajano: Um organismo que foi criado, chamado CO-Rio. O Pan-americano não é da COB, é da CO-Rio, ela que pega a prefeitura, o Ministério do Esporte, o governo do estado, as empresas que quiserem entrar, e organiza...
Mas ela é o quê, essa CO-Rio?
Kfouri: Uma empresa particular. Quem preside? Carlos Arthur Nuzman. Ele é o presidente da CO-Rio e do COB.

Sobre as instalações:
Kfouri: Não se sabe o que será feito de cada instalação, o que é um crime. A maior probabilidade é que a gente esteja construindo uma porção de elefantes branco, alguns dos quais atendendo a velhas e ilegais reinvindicações da iniciativa privada para mexer em regiões do Rio que são tombadas ou são área de proteção ambiental. Querem fazer um shopping na Marina da Glória, então vamos fazer umas obras aqui para as provas de iatismo e já deixa tudo pronto pra depois a iniciativa privada tomar conta e construir o sei shopping. É tudo jogado.
Sobre o valor do Pan:
Trajano: ... o valor esportivo do Pan é muito pequeno. Os Estados Unidos vão mandar, como sempre, a terceira equipe de atletismo, de natação, o Canadá tambem, e até a Argentina não vai mandar sua seleção principal de basquete. Então o Brasil vai ter o maios número de medalhas de todos os tempos, o Hino Nacional vai tocar... e o cara não recebe a medalha ali onde ele ganha, estão pensando em levar pra praia de Copacabana, faz um cenário, aí o cara vira herói nacional.
Mais no ralo:
Trajano: E onde você olha tem coisa. O Pan vai bancar passagens para cerca de mil cartolas, tudo custeado pelo governo federal, que vai liberar 22 milhões pra isso.
Kfouri: O fato de o COB prometer que bancaria as passagens foi decisivo para que o Rio ganhasse de San Antonio, no Texas, porque imagina se os americanos iam pagar passagem para os caras...
Promessas, ilusões e cotovelos:
Kfouri: Só pra deixar claro, uma coisa que é importante - se me dissessem: "Quando os jogos terminarem, independente da importância esportiva que tenham ou deixem de ter, você vai poder, de novo, nadar na lagoa Rodrigo de Freitas", eu diria que valeram a pena. Essa era uma das promessas, a despoluição da Rodrigo de Freitas. A outra: a despoluição da baía de Guanabara. Metrô: do aeroporto à Barra da Tijuca...
Voltando ao Diário Gauche, "Marx, no "Manifesto Comunista", afirmou que o Estado não passa de um comitê da burguesia, no sentido de ser um instrumento para a realização do capital e defesa dos interesses do mercado. O "Manifesto" foi lançado em fevereiro de 1848, e no Brasil continua absolutamente atual."
O que é panóptico? É um papo bacana, pesquise e faça as conexões.

O embaixador do aumento do preço da comida

Com este título o Blog do Alon atenta para as novas costuras geopolíticas.
"O mesmo Lula que começou seu ciclo no poder vendendo-se como o embaixador do combate à fome, especialmente na África, transformou-se no embaixador da redução da dependência americana do petróleo. O que o faz acumular outro papel: embaixador mundial do aumento do preço da comida. O que vai prejudicar especialmente os mais pobres. Principalmente na África. E aumentar a fome. Claro, você sempre pode acreditar que as oportunidades de negócios criadas pelo novo ciclo monocultor vão representar a libertação dos povos explorados e oprimidos, principalmente na África e na América Central. Você e a Velhinha de Taubaté, se ela já não tivesse morrido."

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Sentir confusamente é ainda mais fácil, e menos fatigante, que compreender com toda a lucidez

O Rio Grande do Sul de Yeda dá e recebe sugestões, alternativas e métodos que nem os lunáticos de lua minguante acreditam. Por trás de suas duas últimas medidas esconde-se o tesão de humilhar da sua polícia política. Ou pensas que é para assaltante os brinquedos?

O primeiro deles custa US$ 15 mil e faz feliz a turma do parcão e do parque Germânia por sua estética "limpa".

O outro não tão engraçado chama-se "TASER M26" (clic PRBS).

Na realidade é uma arma em teste em diversas partes do mundo, com casos de grande dano devido a suas descargas elétricas de 50 mil volts que causam a paralisia do sistema nervoso da vítima. Por vítimas, lemos nos jornalões, entenda-se assaltantes, motoristas bêbados enfurecidos. Porém, mais ao gosto da sensível Brigada Militar, estudantes, manifestantes, sem-terra etc.
Por aqui, a tosqueria está aberta. Digite no You Tube coisas como "Taser gun" e divirta-se.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Derruba um, constrói...

A turminha da direita sempre vem com um papo brabo quando se fala de ideologias e suas mortes. O exemplo do muro derrubado na Alemanha é gritado com endiabrado entusiasmo por eles. Porém sua memória seletiva, como é seletivo tudo na direita, esquece os inúmeros outros exemplos, agora, de construção. Abaixo, texto de Renato Pompeu na Caros Amigos de junho.
"A globalização derrubou o Muro de Berlim, mas está longe de garantir o direito de ir e vir em todo o mundo, pois novos muros estão sendo erguidos em numerosos países, segundo levantamento da Agência Reuters em www.alertnet.org/thenews/newsdesk/N26347439.htm (em inglês).

O mais notório é o muro em construção na Palestina, com o qual as autoridades israelenses separam aldeias palestinas de suas terras de cultivo ancestrais. Estendendo-se pela Cisjordânia, é um muro de concreto de 5,5 metros de altura, e 700 quilômetros de extensão.

Outro muro bem conhecido separa os EUA do México, para impedir a entrada de mexicanos em território americano. É de metal e alcança 1.100 quilômetros, um terço do total da fronteira entre os dois países.

Em Bagdá, soldados dos EUA estão erguendo barreiras de concreto de 3,5 metros de altura e 3,5 quilômetros de extensão, para cercar um bairro sunita.

Cercas de arame farpado ocupam metade dos 2.900 quilômetros de fronteira entre a Índia e o Paquistão, e os planos são de aumentá-las até cobrirem quase toda a fronteira. Os dois países têm outras cercas: o Paquistão já construiu 30 quilômetros de cercas de arame farpado na fronteira com o Afeganistão e seu governo planeja muros e cercas para todos os 2.400 quilômetros. A Índia já ergueu uma cerca para separar seu Estado de Bengala da vizinha Bangladesh e pretende instalar cercas em todos os 4 mil quilômetros da fronteira entre os dois países.
Existem cercas e muros semelhantes, prontos ou planejados, separando a Tailândia da Malásia, o Marrocos do Saara Ocidental, os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla do Marrocos, a Arábia Saudita do Iêmen e do Iraque e o Kuwait do Iraque. Definitivamente, a globalização é para as finanças e os produtos, mas não para as pessoas."